“Quem é teu servo, para teres olhado para um cão morto tal como eu”?
Traduzindo “MINHA VIDA É UMA SUCATA”.
Esta é uma expressão muito comum da parte dos jovens. As angústias e
inquietações comuns à juventude fazem com que o jovem se sinta “quebrado”, às
vezes sem rumo, sem valor e sem perspectivas. Outras vezes se sente sozinho,
abandonado, sem amigos. Em outros momentos são as tentações que o confundem e
fragmentam.
Novamente, não são apenas os jovens que passam por isso. O rei Davi
também se sentiu abandonado e rejeitado pelos que estavam próximos dele.
Podemos ler seu desabafo no Salmo 31.12: “Estou esquecido no coração deles,
como morto; sou como vaso quebrado”.
Mas é consolador saber que o oleiro não joga fora os vasos quebrados. O
oleiro os refaz. Igualmente o nosso Deus não despreza seus vasos quebrados. Ele
os refaz. Quando estamos quebrados então estamos prontos para sermos moldados
segundo os propósitos de Deus. É consolador saber que “a tribulação produz
perseverança” (Rm 5.3). É consolador saber que, “Se ando em meio à tribulação,
tu me refazes a vida” (Sl 138.7). Mesmo quebrados, Deus nos refaz e nos molda
em vasos de bênçãos.
A tribulação também é usada por Deus para nos aperfeiçoar, firmar,
fundamentar e fortificar. Este é o contexto em que o apóstolo Pedro diz estas
palavras (1 Pe 5.10). Por isso ele também diz: “Não estranheis o fogo ardente
que surge no meio de vós, destinado a provar-vos...” (1 Pe 4.12). Lembremos que
Jesus também foi esmagado em nosso lugar. Ele pode compadecer-se de nossas
fraquezas, pois ele foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança, mas sem
pecado (Hb 4.15). Lembremos também que o oleiro sabe quanto o vaso podo
suportar. “Deus não permitirá que sejais tentados além das vossas forças” (1 Co
10.13).
Mas também há momentos em que o próprio Deus precisa quebrar-nos. Quando
o orgulho e a autossuficiência começam a predominar em nossas vidas; quando não
enxergamos mais o semelhante necessitado; quando nos esquecemos dos valores
espirituais e eternos; quando não lutamos mais contra o pecado; quando pensamos
que somos insubstituíveis no trabalho da igreja, então Deus precisa nos
quebrar. Muitas vezes, quando estamos em cacos, então é que começa o nosso
valor, pois o oleiro nos moldará pela sua ação graciosa, para os seus
propósitos santos.
A Bíblia está repleta de personagens, muitas Histórias, em vários
lugares e tempos diferentes. Nela encontramos personagens que são muito
conhecidos, como é o caso de Moisés, Noé, Abraão, Jó, Pedro, Paulo..., mas
também encontramos personagens, que “sem muita glória” sobre sua vida, ficam
escondidos nas entrelinhas bíblicas. Bom, é exatamente de um desses personagens
que queremos falar aqui, o seu nome é Mefibosete - O Vaso Esquecido. Sua
História não está escrita na Bíblia por acaso, a vida deste homem nos revela
muito da vontade de Deus em nossa vida.
A primeira referência a respeito de Mefibosete é quase que
imperceptível, pois ele aparece com outro nome, é chamado de Meribe-Baal “E o
filho de Jônatas foi Meribe-Baal...” (ICr 9.40). Encontramos uma citação a seu
respeito, onde é relatado o acidente que ocorreu com ele e o deixou aleijado “E
Jônatas, filho de Saul, tinha um filho aleijado de ambos os pés; era da idade
de cinco anos quando as novas de Saul e Jônatas vieram de Jizreel, e sua ama o
tomou, e fugiu; e sucedeu que, apressando-se ela a fugir, ele caiu, e ficou
coxo; e o seu nome era Mefibosete”(IISm 4.4).
O Livro das Crônicas nos revela o seu nome originalmente colocado por
seus pais quando do seu nascimento (Meribe-Baal), e em Samuel encontramos a
referência a outro nome, nome pelo qual ele é, mas conhecido (Mefibosete).
Mefibosete era neto de Saul, o primeiro rei de Israel. Saul foi um rei
escolhido para reinar sobre o povo “E quando Samuel viu a Saul, o SENHOR lhe
respondeu: Eis aqui o homem de quem eu te falei”
Este dominará sobre o meu povo.”(I Sm 9.17). Mas com o passar do tempo,
por se distanciar da presença de Deus, foi rejeitado por Deus, “ENTÃO disse o
SENHOR a Samuel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que
não reine sobre Israel.” (ISm 16.1). Ao rejeitar a Saul, Deus escolheu a Davi
para substituí-lo “Então mandou chamá-lo e fê-lo entrar (e era ruivo e formoso
de semblante e de boa presença); e disse o SENHOR: Levanta-te, e unge-o, porque
é este mesmo.” (I Sm 16.12)
Com essa rejeição acendeu-se uma iria ao coração de Saul e ele intentava
matar Davi. Porém, em todo tempo Jônatas ajudava a Davi a livrar-se do rei Saul
“E Jônatas o anunciou a Davi, dizendo: Meu pai, Saul, procura matar-te, pelo
que agora te guarda pela manhã, e fica-te em oculto, e esconde-te”. (ISm 19.2).
Jônatas e Davi eram muito amigos, ao ponto da Bíblia declarar que ele amava
Davi “Jônatas fez jurar a Davi de novo, porquanto o amava; porque o amava com
todo o amor da sua alma”. (ISm 20.17). Por conta dessa amizade entre eles
Jônatas ajudava a Davi a fugir de seu pai, Saul. E Davi também amava Jônatas,
assim como Jesus a Lázaro e sua família, assim como Deus amou o Mundo, assim
como Cristo amou e ama a Igreja...
Com a morte de Saul, toda a sua descendência andava temerosa. Embora
sabendo que Davi era um homem justo e temente a Deus, não faltavam pessoas –
aqueles bajuladores de plantão – dispostos a acabar com a descendência de Saul
para mostrar-se do lado do rei, tanto que Is-boete, um dos filhos de Saul, foi
morto justamente por essa causa (IISm 4:8). A sensação para a família de Saul é
que muitas cabeças iriam rolar, literalmente.
Mas ao invés de aproveitar a oportunidade para vingar-se da família cujo
patriarca passara a vida inteira lutando contra si, Davi permanecia fiel a
promessa que fizera a Jônatas, filho de Saul, de que jamais levantaria a mão
contra um descendente seu. Por isso, depois de vitorioso, no auge de seu
poderio, Davi ainda lembrava-se da aliança que fizera com seu amigo, e certo
dia inquietou-se: “Resta ainda, porventura, alguém da casa de Saul, para que eu
use de bondade para com ele, por amor de Jônatas?” (II Sm 9:1).
Havia sim, apenas um homem, filho de Jônatas e neto de Saul, seu nome
Mefibosete ou Meribe-Baal. Aqui começamos a ver algumas peculiaridades na vida
desde homem, coisas que em uma leitura rápida nos passam despercebida, mas que
ao colocarmos a vida diante de Deus podemos ver além de letras e Histórias,
podemos ver um ensino para os nosso dias, afinal, “ O que foi, isso é o que há
de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do
sol”. (Ec 1.9). Hoje ainda vemos a História de Mefibosete se repetir na vida de
muitas pessoas, atentemos para as observações aqui contidas.
1 O Nome do Jovem
O nome originalmente dado ao jovem, como já vimos, era Meribe-Baal, e
significava “combatente contra Baal”. Baal era o deus cananeu da
fertilidade responsável, segundo se acreditava, pela germinação dos plantios,
pela multiplicação dos rebanhos e pelo aumento de filhos na comunidade. O mais
conhecido dos deuses dos povos que habitavam a Terra de Canaã. Apesar do termo
“Baal” também significa senhor ou dono, não quer dizer que seja o Senhor ou
Dono de Israel, o Deus Todo-Poderoso, pois o Senhor de Israel é “Adonai”.
Vemos pelo significado de seu nome que ele nascerá para ser um herói
corajoso, um valente, um guerreiro, um combatente e destruidor de Baal, o deus
cananeu. Esse era o desejo de Jônatas ao colocar esse nome em seu filho. Qual
você acha que é a vontade de Deus para mim e para você? Deus não nos criou para
a derrota, Deus nos criou para sermos mais do que vencedores por meio de Cristo
Jesus que nos amou “E o SENHOR te porá por cabeça, e não por cauda; e só
estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do SENHOR teu Deus,
que hoje te ordeno, para guardá-los e cumprir”. (Dt 28.13)
Mas agora o jovem se chamava Mefibosete, que significa “portador de
vergonha ou aquele que espalha vergonha”. Talvez ele mesmo tenha escolhido este
nome, pois como vemos, a queda de sua família o arrastou para a miséria ao
ponto dele considerar-se um cão morto. Duas podem ter sido as razões da
escolha do nome: primeira, para esconder sua deformidade – era aleijado dos
pés; e segunda, para esconder a sua verdadeira identidade – neto de Saul, inimigo
do rei Davi.
Então eu penso em quantos filhos que nosso Deus escolheu para lutar,
para batalhar pelo bem, e nunca sair da guerra sem a vitória. Quantos Ele
escolheu e lhes deu um nome de destaque e respeito na sociedade, homens e
mulheres que escolhidos para serem mais do que vencedores sobre os males deste
mundo. Mas estes filhos acabaram sendo arrastadas pela miséria, por acidentes,
traumas, palavras... e foram caindo, caindo e caíram tanto, que hoje chegaram
ao ponto de serem apontados como “propagadores da vergonha”.
O apóstolo Paulo adverte: “Aquele que pensa estar em pé, cuide para que
não caia” (ICo 10.12). Veremos muitas pessoas caindo ao nosso redor durante a
caminhada cristã. Algumas dessas quedas terão tal impacto sobre nós, que, ao
olhar ao redor, nosso primeiro impulso será desistir também. Mas o fato de
algumas pessoas abandonarem a verdade, não significa que a Verdade desvaneceu,
nem temos que cair também, traindo a escolha que Deus fez e as obras que Ele
confiou a nós.
2. O Lugar Onde Habitava
Quando uma pessoa cai, onde devemos procurá-la? Nas alturas ou no chão?
Na glória ou na sarjeta? Em meio à nobreza ou em meio aos plebeus?
Quando Davi chamou o servo e disse: “E disse-lhe o rei: Onde está? E
disse Ziba ao rei: Eis que está em casa de Maquir, filho de Amiel, em
Lo-Debar”. O jovem, que era neto de rei, habitava agora na casa dos outros e em
lugar chamado Lo-Debar que significa “sem pastagens, um lugar seco e árido,
onde não se planta nem se colher nada”, quando lembro que este jovem foi criado
no palácio, como um príncipe e com todas as regalias, isso me parte o coração.
Quando penso em cada pessoa que foi chamada para ser triunfante e
habitar na Casa de Deus, no Palácio Real... e hoje se encontra “como um cão
morto” habitando num deserto. Vasos escolhidos que agora estão esquecidos,
chamados para a abundância vivem em miséria, chamados para “caminhar pelas
terras” e possuí-la por herança vivem “entrevados” e ainda perdem tudo que tem.
Mas o rei o mandou buscar Mefibosete e trazê-lo a Jerusalém, que é
cidade do Deus Vivo habitação de dupla paz. Imagino Mefibosete ali assustado, e
ao mesmo tempo encantado com a beleza do palácio. Exatamente como nós ficamos
diante da Grandeza da Glória de Deus. Sendo ele conhecedor do passado de sua
família, ele certamente fica muito temeroso, mas Davi lhe disse uma palavra de
conforto, de ânimo.
A mesma palavra que Deus nos diz sempre que estamos em dificuldades, o
mesmo que Deus está dizendo ao seu coração aflito agora, o mesmo que Deus diz
quando passamos pelo vale da sombra da morte... NÃO TEMAS.
Davi restituiu tudo que era de Saul a Mefibosete, Davi o trouxe para
habitar em Jerusalém e todos os dias ele comia pão na mesa do rei Davi “Morava,
pois, Mefibosete em Jerusalém, porquanto sempre comia à mesa do rei...” (IISm
9.13)
Tudo o que Deus lhe deu no dia em que te escolheu tudo será devolvido,
Deus vai te transportar de Lo-Debar para Jerusalém, saciará tua fome com o Pão
Vivo do Céu – Jesus Cristo.
Conclusão:
Quando Deus escolhe alguém, Ele capacita, ao capacitar Ele envia ao
enviar Ele sustenta. Deus quer que seus escolhidos tapem os buracos do muro,
quer que estejamos na brecha, afinal, foi para isso que ele nos escolheu. Mas
Ele sabe, melhor do que nós mesmos, que não somos super-heróis, sabemos que somos
dependentes Dele... Apesar De ele nos determinar uma tarefa árdua de tapar os
buracos e estar na brecha e requerer de nós um compromisso, uma santidade,
sinceridade... Ele nunca nos desamparará se falharmos na missão, pelo
contrario, nos dará uma Segunda chance.
Ele nunca nos deixará morrer em Lo-Debar, Ele nos fará habitar em
Jerusalém. Ele não nos deixará serem “proclamadores de vergonha”, mas nos fará
embaixadores de Cristo. Ele não nos deixará morrer miseráveis sem perspectivas
de vida eterna, antes nos fará coerdeiro com Cristo, Ele não nos deixará comer
das bolotas dos porcos, antes nos dará de seu manar escondido.
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