Texto: Mc
10:46-52
Introdução.
Jesus causava alvoroço por onde
passava. Mesmo quando realizava suas curas maravilhosas e pedia que as pessoas
não as relatassem a ninguém, elas não conseguiam ficar sem dar glória a Deus e
contavam para todo mundo. Então deste modo por todos os cantos corria a sua
fama.
Quando esteve em Jericó não foi
diferente. Havia naquele lugar um cego cuja cegueira era apenas uma privação
dos sentidos, isto é, uma cegueira física e não espiritual, pois ao ouvir o
barulho da multidão ao seu redor perguntou a um dos transeuntes o que estava
acontecendo. Respondeu-lhe o homem que todos se encontravam agitados daquela maneira
por causa de Jesus que ali se encontrava. Podemos assim notar que o cego de
Jericó tinha uma aguçada percepção espiritual, discernindo algo diferente que
estava acontecendo ao seu redor.
Desta forma o cego prontamente
começou a clamar:
“...Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!” (Mc.10.47)
Primeiramente necessitamos entender
o significado do verbo clamar, verbo de origem latina clamare, que quer dizer
proferir em voz alta, gritar, implorar.
Citamos a seguir uns dos
significados do verbo implorar, sinônimo de clamar, que mais nos chamam a
atenção são:
-pedir com lágrimas ou
em tom de súplica chorosa;
-pedir humildemente a
ajuda de;
-solicitar com
insistência.
Mas por que o significado deste
verbo nos chama tanto a atenção? Talvez tenha sido por transmitir o sentido
literal do que fez o cego de Jericó, ao estar tão próximo do salvador. Ele não
se envergonhou, porém desceu ao pó, permitindo ao Eterno perceber a sinceridade
do seu coração.
A reação da multidão foi contrária a
sua atitude, ela expressa uma forma de repreensão e censura para com o
procedimento do cego de Jericó com Jesus.
Comentário.
Jesus e seus discípulos ao sair de
Jericó, seguido de uma multidão, deparou-se com um quadro diferente, encontrou
um homem nestas condições:
1) Cego – condição
2) Sentado junto ao caminho – lugar, onde estava
3) Mendigando - o que fazia
Seu nome: Bartimeu, veja que as 3
características encontradas estão diretamente ligadas, vamos analisá-las:
1.
A
CEGUEIRA – Privado
de vista; homem que não vê.
* Se
há limites para não enxergar, há também bloqueios para não avançar. O medo
começa a se instalar: medo de cair, medo de não saber onde esta, ou onde está
sendo levado...
*ao
mesmo tempo em que precisa confiar no que dizem acerca do lugar para não se
machucar.
No campo espiritual, a cegueira se
instalou no homem por causa do pecado, e a partir dali ele foi privado de sua
vista, não pode mais contemplar a glória de Deus. Um véu foi colocado porque
“os sentidos foram endurecidos: porque até hoje o mesmo véu está por levantar
na lição do VT, o qual foi por Cristo abolido”. II Co 3:14
Marcos 15:38 – “Diz que o véu do templo se rasgou em dois de alto a baixo”,
mas mesmo assim a cegueira permanece. Quando Jesus estava morrendo na cruz deu
um grande brado – era o grito da vitoria, era o grito da libertação, o grito da
cura da cegueira humana onde alguns continuam cegos, alguns continuam como o
centurião. “Verdadeiramente esse homem era o filho de
Deus”. Lc 15:38-39. Mas não passa disso, não passa de uma declaração.
O que Deus busca são cegos que
queiram enxergar, que queiram ver seu filho na cruz, mas acima de tudo que
desejem ter experiência genuína com ele.
2. COMODISMO – a cegueira trás essa conseqüência.
Vemos qual era a postura de Bartimeu. “Estava assentado junto do caminho”.
Bartimeu chegou no caminho mais não andou por ele, decidiu sentar-se junto
dele.
O ato de sentar-nos fala de 2
coisas: 1 – estou cansado e 2 – não tenho pressa.
Quando procuramos um lugar para
sentar é porque nossas pernas estão cansadas, não agüentam mais o peso do
corpo. Vemos muitas pessoas assim, já andaram por tantos lugares, já fizeram
longas caminhadas, procissões e estão cansadas, cansadas de procurar Deus,
cansadas de procurar a felicidade, cansadas de procurar a paz e agora só me
resta sentar e esperar socorro, livramento, ajuda.
Alguns sentam com o argumento: “não
tem mais jeito, fazer o que?” ”não posso fazer nada”. Um dia Deus vai me tirar
dessa situação.
Tudo isso vem no coração humano
porque além da cegueira decide sentar mais sentar no lugar errado – a Palavra
de Deus nos diz em Efésios 2:6 que: “Cristo nos ressuscitou juntamente com ele
e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus”.
Assentar nos lugares celestiais é
usufruir dos direitos de filhos. Somente os filhos têm direito a herança,
somente os filhos, os nascidos de novo, aqueles que estavam “mortos em suas
ofensas, pela graça Cristo os vivificou juntamente com ele”. (Ef. 2:5).
O problema da cegueira é porque
desprezamos a graça salvadora de Jesus, desprezamos o sacrifício, desprezamos o
lugar celestial que ele preparou para nos assentar e decidimos como Bartimeu
ficar sentado junto do caminho.
Em João 14:6,
Jesus disse claramente: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, mas como
Bartimeu muitos estão junto do mais não no caminho.
Estar assentado junto do caminho é
os que gostam de ouvir a palavra, gostam dos louvores, dos eventos, mas não
querem compromisso, responsabilidade com o reino, estão “junto” participam, vão
todos os domingos nos cultos, mas continuam cegos e pior entra na 3ª condição.
3. MENDIGANDO - MENDIGO = pedir por esmola. ESMOLA =
o que se dá por caridade aos necessitados. No Antigo Testamento não tinha esta
palavra, mas exigia que o povo abrisse a mão para os necessitados, os pobres da
terra – DT 15:11 => diz que nunca cessará o pobre no meio da terra pelo que
ordeno que livremente abra mão para teu irmão necessitado e para o pobre da tua
terra.
Veja bem a condição de um mendigo. É um necessitado, uma pessoa que
depende da caridade de outrem, uma pessoa que recebe qualquer coisa por não ter
escolha, é um escravo da situação, da circunstancia tendo que se submeter a
humilhações, vergonha, fome, nudez...
Nessa condição estão muitos mendigos
espirituais que por não entrarem no caminho, estão junto dele pedindo esmolas:
querem atenção; querem amor; querem suprimento financeiro; querem saúde; querem
ser alvo de atenção dos outros; andam pelas igrejas como coitadinhos precisando
de ajuda por viver de forma desgraçada na miséria emocional. Com casamentos
desfeitos, vidas arruinadas pelos vícios, pela prostituição, pela homossexualidade,
não foi para isso que o Pai te fez!!!
v.
47 – diz que aquele
homem ouvindo. O que? Quem vinha pelo caminho? Jesus, o próprio caminho,
ele começou a clamar.
Quando você entender que este
caminho é a solução para sua cegueira, você fará o mesmo que Bartimeu; aquele
homem começou a clamar:
Quando você entender que este
caminho é a solução para sua cegueira, você fará o mesmo que Bartimeu; aquele
homem começou a clamar: “Jesus, filho de Davi tem misericórdia de mim;”
Aquele grito era para chamar atenção
do mestre à sua condição.
Hoje é dia de você fazer o mesmo,
pare de ser ouvinte do evangelho, pare de andar junto, ande nele, com Ele. O
estar junto não lhe garante salvação, segurança, portanto grite por socorro
como Bartimeu, não fique cego na beira do caminho, clame por misericórdia.
Porque a atitude de Jesus não é como do homem (v. 48) que o repreendiam para
que se calasse, mas não se cale, clame mais. A atitude do mestre ao clamor do
homem é: parar e chamar.
Hoje Jesus parou para ouvir o teu
clamor, parou para ver sua necessidade, parou com um propósito chamar você –
isso é fantástico, ele te chama para viver com Ele, estar com Ele no lugar
certo não mais junto do caminho mais sentado nas regiões celestiais – no lugar
do descanso, do refúgio.
Quando foram chamar Bartimeu lhe
disseram; “Tem bom animo, levanta-te que Ele te chama”. (v.49)
Tem bom ânimo - mude o sentimento do seu coração,
solidão, rejeição, abandono, anime-se e tome posição. O levantar-se é
uma atitude de quem vai se mover, atitude de quem vai a algum lugar e o lugar
é: atender o chamado do mestre; Ele te chama.
Bartimeu foi ter com Jesus – com quem você
está indo se encontrar? Com quem você tem resolvido o problema da sua cegueira?
Jesus fez uma pergunta direta para
aquele que foi ao seu encontro; que queres que te faça?
Sua
resposta foi: Mestre, que eu tenha vista. Era como se Bartimeu estivesse
dizendo: “não agüento mais ficar tateando” de um lado para outro, não agüento
mais depender dos outros, não agüento mais depender dos outros para me
conduzir, não agüento mais viver de esmolas, não agüento mais essa vida de
miséria e ruína, Jesus lhe disse e diz para você: vai a tua fé te salvou
– teus olhos serão abertos para uma nova vida – ele viu e seguiu a Jesus pelo
caminho.
Quando a cegueira sai você enxerga o
caminho, não fica mais andando pelos atalhos, porque o caminho que Jesus tem é
sobremodo excelente = ande por ele.
Conclusão.
Estas lições são colocadas em
prática mais a frente na vida do cego Bartimeu, que insiste em ser atendido por
Cristo mediante o seu clamor. Ele não se deixa intimidar pela força das
circunstâncias ou pela oposição das massas, muito pelo contrário ao se sentir
acuado pela multidão a sua volta para que parasse de clamar, grita mais alto, o
seu brado é mais resistente a tentativa de calar sua voz, o que se pode notar
no seguinte trecho deste texto de Marcos 10.48:
“... E
muitos o repreendiam para que se calasse, ele, porém, gritava mais ainda...”
Também notamos em sua oração, uma
singeleza nas palavras que utilizou. O cego de Jericó não fez uso de um
vocabulário rebuscado com metáforas, hipérboles etc. , porém falou com Jesus
sobre o que ia em sua alma. Há uma passagem na Bíblia que diz que não é no muito
falar que serei atendido, mas na qualidade desse falar.
A oração de Bartimeu é bem simples e
curta. Ele não procurou tirar o atraso da oração, muito pelo contrário buscou
ser sintético enfatizando o que realmente era importante pedir naquele momento
em que orava, vejamos:
“...Jesus,
Filho de Davi, tem compaixão de mim!” (Mc 10.47
“...Filho de
Davi, tem compaixão de mim!” (Mc. 10.48)
Mas o que deveria ser levado em
consideração nestas orações? Devemos considerar a existência de uma invocação
do nome de Jesus, um chamamento, Jesus é chamado para vir ter compaixão do
cego. Bartimeu não busca resolver seu problema por si mesmo, mas sim deseja que
Jesus o ajude, intercedendo pela intervenção deste em sua vida. O cego entende
que carece de Jesus para resolver aquela questão. Podemos notar aqui que
Bartimeu se humilha e reconhece a soberania de Deus, na figura de Cristo.
O que em nossos dias atuais tem
tentado calar o nosso clamor a Deus? Serão as dificuldades do dia a dia? Será o
nosso próprio eu? Ou serão nossas próprias limitações? A limitação de Bartimeu
era sua cegueira física, porém isso não o impediu de ser abençoado pelo verbo
em pessoa, Cristo.
Notamos que Cristo pergunta ao cego
o que deseja que lhe seja feito. Que coisa estranha! É claro que Ele sendo o próprio
Filho de Deus poderia curá-lo automaticamente, sem que houvesse esta
necessidade. O Senhor Jesus desta maneira nos apresenta um Deus que se importa
com as dores humanas, que busca ter intimidade com o homem e que procura fazer
com que o ser humano através de seu pedido, interioriza a divindade como pai.
Afinal esta foi a marca distintiva
entre o cristianismo e as demais religiões, pois o primeiro buscava apresentar
a divindade bem mais próxima da humanidade, isto é, visando ter com o homem uma
relação de pai e filho, bem mais chegada. Até então no mundo o homem da
antigüidade apenas conhecia as divindades como seres, coisas, essências ou
objetos constituídos de poder sobrenatural, porém sem ter relação pessoal com
ele. É na personificação do verbo que isto se realiza, é o próprio Jesus Cristo
quem nos dá uma visão diferente de Deus.
A relação entre pais e filhos deve
ser baseada no diálogo, na confiança, no amor e no carinho. Um filho que seja
educado deste modo, com certeza confiará no pai e lhe pedirá tudo de que
necessita, ele não temerá aproximar-se de seu pai, pois se sente a vontade para
contar-lhe todas as suas necessidades. E o que vemos neste texto? Aqui Jesus
apresenta o Deus Pai na realidade concreta da vida do cego Bartimeu, ao lhe
perguntar o que desejava que lhe fosse feito. É óbvio que Jesus sabia qual era
o desejo do cego, contudo fez com que ele o externalizasse, desenvolvendo nele
uma dependência de Deus. Bartimeu é comparado a uma criança cuja relação com
seu Pai é tão boa que ao pedir qualquer coisa a ele, possui a confiança de ser
prontamente atendida.
Será que temos nos colocado nas mãos
do Senhor Jesus como fez o cego de Jericó? Creio que não, pois muitas das vezes
nos achamos com capacidade de resolver nossos problemas e tiramos Deus da
posição que lhe é devida em nossas vidas. Mas que posição seria essa? A
resposta a essa pergunta é de que a posição do Senhor deve ser a daquele que
ocupa o primeiro lugar e não o último. Nosso ego, portanto necessita ser
amortecido para realmente nos encontrarmos sob o senhorio de Deus e podermos
afirmar como o apóstolo Paulo: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em
mim”.
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